Tenho recebido com muita frequência no consultório, esposas e namoradas de usuários de álcool e outras drogas, que apresentam um legítimo sofrimento em suas relações abusivas mas que, por diversas vezes, terminam e recomeçam o relacionamento que as fere na esperança de ver o outro se modificar.
Para que os castelos não desmoronem, os casamentos não se acabem, em nome dos sonhos construídos, muitas vezes somente em suas mentes, elas passam pelos mais diversos dissabores, mas resistem à separação, pois supõem ser maior a dor do abandono e rejeição do que da vivência destrutiva.
Assim alimentam um ciclo de comportamentos disfuncionais repetitivos que alternam promessas e esperanças com frustrações e desalento.
O que faz estas mulheres permanecerem na relação?
A dependência afetiva de seus parceiros instáveis emocionalmente.
Na maior parte dos casos, suas infâncias foram dolorosas, com vivências de abandono, negligências, muitas vezes de abuso e violência e hoje, sentem-se “familiarizadas” com pessoas que as tratam da forma já conhecida e assim mantém o relacionamento doentio, desenvolvendo uma espécie de compulsão por querer mudar o outro, encaixando-o no padrão de seus sonhos não atendidos na infância.
Não são amarras físicas ou financeiras que as mantém nestas situações, mas amarras emocionais que precisam ser transformadas na coragem de perceberem como merecedoras de relacionamentos saudáveis, em que possam ser verdadeiramente amadas e respeitadas, sem mudar o outro e mudando apenas a si mesmas.